Como o RH pode usar a inteligência artificial no seu dia a dia e como a área de pessoas pode facilitar a transformação nas empresas por meio da tecnologia
O SXSW é um festival que se propõe a ser o “maior festival de criatividade e inovação do mundo”. Eu, que sempre fui extremamente curiosa, já acompanhava há anos o que rolava por lá e desta vez me organizei para viver esta experiência presencialmente.
Desde que comentei nas minhas redes sobre a ida ao SXSW 23, me chamou a atenção a quantidade de pessoas que questionaram e até mesmo estranharam a presença de uma empresa de RH num evento como este. Muitos me perguntavam o por quê de estar lá e se era realmente um investimento coerente para um profissional da área. Eu sempre acreditei que sim – afinal, o RH tem um papel altamente protagonista nas transformações em pauta nas organizações.
O ChatGPT
A grande estrela deste ano no festival foi a inteligência artificial generativa, muito puxada pelo fenômeno ChatGPT. Era pouco comum entrar numa palestra e não ter ao menos uma citação, ainda que em tom de crítica, à tecnologia ou a como ela vem sendo usada. Todos tinham alguma opinião a dar a respeito do assunto, e o fato é que, assim como disse a futurista Amy Webb, “a internet como conhecemos hoje não existe mais”.
De acordo com Amy, a AISMOSIS (IA + osmose, em inglês) “será um cenário em que todas as IAs interagem com todos os dados de qualquer fonte em qualquer situação. Quando chegarmos a este ponto, a internet como conhecemos acabará. E essa evolução está sendo invisível para nós”.
Diante de tudo que foi apresentado por lá, ficou claro que não podemos ser meros curiosos do assunto; precisamos atuar ativamente. À medida que fui amadurecendo minhas reflexões, comecei a organizar as ideias, dividindo-as nas seguintes perspectivas: como o RH pode usar a IA no seu dia a dia e como o RH pode facilitar a transformação nas empresas por meio do IA.
IA para o RH
De modo geral, o RH costuma ser pouco aberto a novas tecnologias. Trabalhamos com sistemas legados, que raramente são a prioridade das equipes de TI, o que faz com que as lideranças tenham medo de assumir riscos em novos sistemas. Esse cenário precisa mudar!
Assim como aconteceu com a Internet, a IA está impactando drasticamente o trabalho, de maneiras que só agora começamos a entender e o RH deve experimentar estas ferramentas.
Já existem opções capazes de detectar e analisar centenas de detalhes como tom de voz, expressões faciais, trejeitos, que estão sendo usadas para prever como um candidato vai ou não se encaixar na cultura organizacional de uma empresa. Isso tem sido bem comum na área de Recrutamento e Seleção, mas já podemos esperar evoluções do uso desta tecnologia para prever comportamentos de engajamento e até mesmo de performance.
As prioridades devem ser experimentar soluções que produzam automações relevantes, que facilitem a análise de grande volume de dados e que gerem algoritmos preditivos. É assim que vai sobrar tempo para os times de RH serem realmente mais humanos. Afinal, não acredito que a tecnologia venha para simplesmente substituir o que é feito hoje, mas, sim, para complementar e potencializar o alcance da criatividade.
RH para IA
Ainda há muito que se discutir sobre o papel dos humanos nessa revolução tecnológica. As empresas estão preparadas para os novos postos de trabalho, para as novas formas de interação e para rever o papel do ser humano dentro do contexto operacional? Eu creio que ainda não.
Precisamos imediatamente criar estímulos consistentes que fortaleçam o desenvolvimento contínuo (reskilling e upskilling) dos colaboradores. Devemos também trazer discussões importantes para a mesa como, por exemplo, a privacidade dos dados e a criação de algoritmos que reforcem os nossos atuais vieses, dificultando a diversidade de pensamento.
Facilitar a transformação pela qual as empresas estão passando é, sim, estratégia fundamental de crescimento e também função do RH.
Estamos vivendo um momento único na história, que eu particularmente vejo com bastante empolgação. Sou otimista em relação ao futuro, mas não sonhadora. Se quisermos aproveitar os benefícios dessa tecnologia, temos de assumir a responsabilidade de garantir que ela seja positiva para todos os seres humanos.
E finalizo citando Rohit Bhargava, outro futurista que ouvimos no SXSW: “O único futuro que podemos criar é aquele que podemos imaginar”. E convido vocês a refletir sobre que futuros estamos imaginando para nossas organizações e que papel queremos ter.