Em um mundo repleto de desafios, falar sobre felicidade é uma necessidade especialmente no ambiente de trabalho. Como Chief Happiness Officer certificada desde 2022, estou aqui para te convidar a refletir sobre a felicidade na vida e no trabalho.
Mas afinal, o que significa felicidade?
Antes de mergulharmos nessa jornada, deixo algumas perguntas que podem guiar sua autorreflexão:
- O que é felicidade para você?
- Você quer ser feliz?
- Deseja sentir-se mais feliz no trabalho?
- Você se considera feliz?
Essas perguntas não têm respostas simples, mas podem nos levar à descobertas sobre nós mesmos e nossas aspirações.
E como isso se insere no contexto do Brasil?
Você sabia que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de burnout? Sim, é isso mesmo. Aqui, em nosso país, enfrentamos uma das maiores taxas de ansiedade do mundo! É provável que você já tenha ouvido alguém desabafar sobre suas dificuldades para dormir devido ao excesso de preocupações no trabalho, ou sobre a ansiedade causada pela sobrecarga de tarefas. Muitas pessoas não estão satisfeitas com suas ocupações, mas continuam nelas por necessidade financeira, enquanto outras anseiam por férias para aliviar o estresse, mas se veem impossibilitadas de tirá-las devido à carga de trabalho.
É possível que você conheça alguém que tenha se afastado do emprego por conta desses motivos, ou até mesmo alguém que duvide da possibilidade de encontrar felicidade no ambiente corporativo. Talvez até mesmo você se identifique com essas situações.
A grande verdade é que todos almejam a felicidade, mas muitas vezes se encontram perdidos, sem saber como alcançá-la, ou buscando motivos equivocados. Acreditam que a chave para a felicidade está em conquistar uma promoção, ganhar mais dinheiro, ou adquirir bens materiais. No entanto, as conquistas apenas contribuem temporariamente para a felicidade, pois rapidamente nos adaptamos a elas, assim como a todas as outras coisas da vida. Quando a fase de adaptação chega, o que resta? Reflita sobre isso enquanto exploramos juntos o caminho para a felicidade.
Por que é importante discutir a felicidade no ambiente de trabalho?
Em meio aos diferentes cenários pós-pandemia, é crucial entendermos os desafios enfrentados pelos trabalhadores. Segundo dados da Gallup em 2020, houve uma diminuição no engajamento dos funcionários globalmente, enquanto o estresse diário atingiu níveis alarmantes. A Harvard Business Review revelou que 89% dos colaboradores relataram uma piora na vida profissional, sendo que mais da metade atribuiu isso à sobrecarga.
Já durante o evento SXSW 2024, tive alguns insights sobre avanços tecnológicos, que embora promovam conveniência, podem contribuir para o isolamento e prejudicar o bem-estar. As tendências atuais mostram um aumento na chamada “grande renúncia”, com profissionais que se sentem desvalorizados pela organização e pelos líderes, além de relatos de falta de pertencimento no trabalho.
De acordo com a Infomoney, 76% das pessoas estão reavaliando suas carreiras em um mundo cada vez mais volátil e imprevisível, onde a satisfação, o significado e a realização no trabalho são cada vez mais valorizados, como indicado pela Gallup em pesquisa recente. Este é um momento crucial para repensar a relação entre felicidade e ambiente de trabalho, visando promover um ambiente mais saudável e produtivo para todos.
Mas por que é tão desafiador alcançar a felicidade?
Além das complexidades do mundo moderno e dos desafios emocionais, há fatores intrínsecos que influenciam nossa busca pela felicidade. Nosso cérebro tende a divagar, ocupando cerca de 47% do tempo com pensamentos dispersos. Além disso, estamos predispostos a focar mais em informações negativas devido a um viés negativo inato. Somos impulsionados por instintos de sobrevivência, e apenas uma em cada sete pessoas possui facilidade para se adaptar a mudanças.
Considerando que dedicaremos mais de 80 mil horas de nossa vida ao trabalho, como escolheremos passar esse tempo?
A psicologia positiva, liderada por Martin Seligman, surge como uma ciência que oferece respostas. Seligman, autor de “Felicidade Autêntica”, ressalta os inúmeros benefícios da felicidade e do bem-estar, incluindo uma vida mais longa, relacionamentos mais satisfatórios, melhor desempenho no trabalho, saúde física aprimorada e maior autocontrole. Este artigo explora como a compreensão desses obstáculos pode nos ajudar a cultivar uma vida mais feliz e significativa, e como a psicologia positiva pode ser uma aliada nessa jornada.
E quanto à infelicidade? Você já parou para considerar o que pode estar causando esse sentimento em sua vida?
Para ajudá-lo em sua autoanálise, vou listar alguns fatores aqui:
- Falta de significado
- Competição e comparação
- Tédio e/ou fadiga
- Ansiedade e/ou burnout
- Inveja
- Culpa/vergonha
O objetivo deste artigo não é oferecer uma fórmula mágica para a felicidade, até porque sabemos que ela não existe. No entanto, pretendo estimular a reflexão e demonstrar que existem caminhos, práticas e conceitos que podem promover a felicidade no dia a dia e no ambiente de trabalho. Vou compartilhar algumas ideias aqui:
Uma definição de felicidade que me chamou a atenção foi a de Paulo Dolan, que diz: “Felicidade são experiências de prazer e propósito ao longo do tempo.” O prazer está relacionado ao momento presente, enquanto o propósito está ligado à consistência e ao significado na vida.
Ao aplicarmos essa perspectiva ao ambiente de trabalho, surgem reflexões importantes:
- Em qual dia realizei um trabalho significativo que teve impacto para alguém?
- Em qual dia desfrutei de liberdade e autonomia para trabalhar à minha maneira?
- Em qual dia senti orgulho do que entreguei?
- Em qual dia me diverti com meus colegas de trabalho?
- Em qual dia realizei as atividades que mais gosto?
Diversos fatores influenciam a felicidade no ambiente profissional, incluindo:
- Sensação de empoderamento
- Valorização e reconhecimento
- Trabalho interessante e significativo
- Senso de igualdade
- Relações positivas no ambiente de trabalho
E esses elementos podem contribuir para promover um ambiente de trabalho mais feliz, produtivo e gratificante para todos os colaboradores. Você já parou para se perguntar o que realmente gera felicidade no ambiente corporativo? É sobre os resultados no trabalho, que devem ser desafiadores, interessantes, e proporcionar impacto positivo e significado pessoal. Além disso, as relações no trabalho desempenham um papel fundamental, envolvendo segurança psicológica, confiança, autonomia, flexibilidade, reconhecimento, valorização e empatia.
Mas, será que é possível ser feliz?
A resposta é sim! A felicidade é uma construção que demanda autorresponsabilidade, autoconhecimento e disciplina. Então, por onde começar?
- Busque emoções positivas, identificando e incluindo atividades que te trazem bem-estar em sua rotina.
- Encontre atividades que sejam desafiadoras, dentro de sua capacidade – que te gerem “flow”
- Cultive relacionamentos positivos, construindo um grupo de apoio sólido.
- Busque por significado em suas atividades, buscando pertencer e servir a algo maior do que você.
- Celebre suas realizações, definindo objetivos claros e reconhecendo suas conquistas.
- Pratique a gratidão, reconhecendo as conquistas, aprendizados e pessoas que te apoiam.
Esses passos compõem parte do Modelo PERMA, criado por Martin Seligman, que oferece insights valiosos sobre o tema da felicidade.
E quanto ao papel do RH nesse contexto?
O RH desempenha um papel crucial, apoiando e potencializando o principal ativo de qualquer empresa: as pessoas. Compreender a felicidade e os caminhos para promovê-la no ambiente de trabalho permite que o RH atue de forma mais eficaz nas práticas de engajamento e bem-estar da empresa.
Isso inclui promover discussões sobre flexibilidade e novos modelos de trabalho, como a semana de quatro dias e a redução da carga horária, que têm sido temas de estudos recentes. Afinal, não dá pra ser feliz somente aos sábados e domingos. Felicidade é o dia a dia, é a jornada.
E aí, o que você já pode começar a fazer hoje para transformar seu ambiente de trabalho?
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